Um dos grandes desafios da implantação de boas práticas de ESG é o equilíbrio financeiro e a comprovação de suas vantagens para o negócio. Por isso, o mercado de créditos de carbono surge como oportunidade para alavancar projetos alinhados com ações de sustentabilidade. Neste artigo, vamos apontar alguns caminhos possíveis para diferentes indústrias para gerar um balanço positivo de créditos de carbono e que podem se reverter em vantagem econômica.
Um crédito de carbono corresponde a uma tonelada de carbono que deixou de ser emitida para a atmosfera. Esses créditos, por sua vez, podem ser comprados por quem precisa compensar suas emissões. Esses créditos podem ser gerados globalmente e são auditados por entidades internacionais.
Quando pensamos no futuro e na perspectiva de desenvolvimento sustentável, compromissos globais como o Acordo de Paris são indispensáveis para uma economia de baixo carbono. No âmbito desse acordo global, 196 nações, mais a União Europeia, apresentaram seus compromissos para a redução de emissões de gases de efeito estufa (as NDC ou Contribuições Nacionalmente Determinadas), com o objetivo de evitar que a temperatura média da superfície do planeta aumente mais que 2°C, e com esforços para que fique abaixo de 1,5ºC.
Neste contexto, o chamado mercado de carbono ganhou força. Ele incentiva o surgimento de projetos para diminuir as emissões e possibilita transações de créditos de carbono para o cumprimento de metas de redução de carbono, seja de países, governos subnacionais ou empresas. Os créditos de carbono são gerados quando uma empresa ou um projeto reduz emissões ou promove o sequestro do gás carbônico da atmosfera.
No Brasil, o mercado de crédito de carbono ainda não é regulamentado e opera no chamado “mercado voluntário”. Devido à grande disponibilidade de recursos naturais e a força da indústria agrícola no país, existe um grande potencial para a geração de créditos a partir de iniciativas promissoras de sequestro e redução das emissões.
A seguir, apresentamos cinco ações que promovem a redução de emissões de carbono e que, portanto, podem ser transformados em projetos de geração de créditos de carbono e assim fomentar potenciais novos negócios.
No Brasil, um dos setores com maior potencial de geração de créditos de carbono é o agroindustrial. Embora seja também um forte emissor, pode atuar no sentido da neutralização por meio do sequestro de carbono pela fotossíntese que ocorre durante o crescimento das plantas.
Incentivar projetos de fazendas de carbono, cujo valor é justamente manter a plantação de pé, em vez de colhê-la, tem sido uma saída para empresas que querem compensar suas emissões.
Outra estratégia importante e ainda pouco explorada para diminuir as emissões é a otimização do uso do solo para melhor aproveitamento da matéria orgânica. Isto possibilita tornar a produtividade no campo mais eficiente, sem necessidade de aumentar a área cultivada, o que contribui para evitar o desmatamento – a derrubada de matas é a principal fonte emissora de carbono no país – 44% do total, segundo levantamento mais recente do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa – SEEG. Por isso, atividades que promovam a conservação de florestas em pé são relevantes para reduzir as emissões.
Globalmente, o setor de energia é o principal emissor de gases de efeito estufa, por isso o alto consumo de energia pode ser um dos vilões contra a sustentabilidade em atividades industriais, especialmente quando ela é gerada a partir de fontes não renováveis, como combustíveis fósseis (petróleo e carvão mineral) ou que geram emissões, como as termoelétricas.
Por isso, a aposta global tem sido promover a eficiência energética e diversificar ou mesmo substituir a matriz energética com o uso de fontes renováveis, como ventos (energia eólica), as águas (hidrelétrica), a luz solar ou biomassa.
Com menor impacto ambiental para instalação de usinas e disponibilidade potencialmente inesgotável, a geração desse tipo de energia produz zero emissões de carbono.
Adotar a logística reversa, ou seja, viabilizar que consumidores possam devolver embalagens ou mesmo produtos usados a sua origem, é uma maneira de reduzir o descarte inadequado.
Outra vantagem desta iniciativa é facilitar o processo de reciclagem desses materiais, reduzindo custos e emissões de carbono da obtenção de matéria virgem para fabricação de novos produtos.
Se o lixo produzido por indivíduos já é um problema, no caso das indústrias as proporções são muito maiores, inclusive no potencial de dano ambiental. Gerenciar a destinação dos resíduos industriais, seja para alguma forma de reaproveitamento ou destruição do rejeito (material tóxico ou perigoso sem alternativa de reintrodução na cadeia produtiva) significa obedecer a lei, mas também uma oportunidade de abordagem de ESG para gerar créditos de carbono.
No Brasil, as empresas precisam atender aos requisitos da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) para preservar o meio ambiente e reduzir a demanda de aterros sanitários. Mas acima disso, é um estímulo à adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo, inclusive para o desenvolvimento de tecnologias e materiais com menor pegada de carbono.
Determinados resíduos industriais ou urbanos não oferecem possibilidade de reciclagem ou reaproveitamento, como pneus, filtros de motor, borras oleosas e até mesmo alguns produtos perigosos. No entanto, em vez de descartados, esses materiais podem ser utilizados como combustível para indústrias que necessitam de altas temperaturas (800º ou mais) em seus processos produtivos, como a fabricação de cimento.
O termo coprocessamento se refere à integração entre os processos de destruição de rejeito industrial e seu uso na fabricação de outros produtos, ao substituir outras matérias-primas para abastecer fornos de alta temperatura. Dessa forma, além de receber uma destinação adequada, o resíduo contribui para reduzir o uso de combustíveis convencionais, inclusive de origem natural, o que reduz suas emissões
Cada uma das 5 ações descritas aqui combina os pilares de ESG, uma vez que além do critério ambiental, visam a otimizar o atendimento à legislação e trazer resultados econômicos para as companhias. Essas iniciativas ajudam as empresas a reduzir sua pegada de carbono e trazem a possibilidade de gerar créditos de carbono que podem ser comercializados.
No que tange o aspecto social, a implementação dessas iniciativas passa também por atividades de capacitação de colaboradores, fornecedores e comunidades. A produção alinhada com ESG é mais do que uma tendência: trata-se de uma questão de mercado. Seu negócio não pode ficar de fora e para isso pode contar com a expertise da Ambipar, a primeira empresa de gestão ambiental a entrar na B3.