Por Equipo de Redacción
Publicado em 5 de agosto de 2021
Nos últimos dois meses, a empresa de gestão ambiental Ampipar fez 14 aquisições, uma média de uma a cada quatro dias. O ritmo vai seguir intenso. Mas a companhia vai precisar de dinheiro. A CEO Cristina Andriotti explica a estratégia ao NeoFeed
Na segunda-feira, 2 de agosto, a empresa de gestão ambiental Ambipar anunciou a aquisição de 55% da Drypol, que transforma o plástico PET em embalagens para produtos de higiene e limpeza. Três dias antes, havia comprado a americana PERS (Professional Emergency Resource Services), a sétima transação nos Estados Unidos, reforçando sua área de prevenção a acidentes ambientais e resposta a emergências.
O ritmo de M&As na Ambipar parece coisa de maluco. E, de fato, é, sem nenhum exagero. Em junho e julho deste ano, a empresa fez 14 aquisições, uma média de uma companhia adquirida a cada quatro dias. Entre elas, estava a chilena Disal Ambiental, por aproximadamente R$ 800 milhões, a maior de sua história, marcando sua estreia na área de gestão de resíduos na América Latina. Desde o IPO, em julho de 2020, quando captou quase R$ 1,1 bilhão em uma oferta primária, foram 22 fusões e aquisições, quase duas compras por mês.
Não à toa, o BTG Pactual chamou a Ambipar de “máquina de fusões e aquisições”, em relatório no fim de junho. E, ao que tudo indica, essa velocidade frenética de M&As não vai parar. “Ainda temos oportunidades no Brasil na área de gestão de resíduos e, agora, com a compra da Disal ainda há negócios para serem vistos na América Latina’, diz Cristina Andriotti, CEO do grupo Ambipar, em entrevista ao NeoFeed. “E também vemos oportunidades nos EUA para a área de atendimento a emergências.”
A estratégia, de acordo com a executiva, deve seguir a linha de adquirir empresas que permitam expansão geográfica, bem como ampliar as linhas de atuação e que tenha sinergias com os dois negócios do grupo: a gestão ambiental (Environment) e a de prevenção a acidentes ambientais e resposta a emergências (Response).
A Disal é um bom exemplo. Com a transação, a companhia passou a atuar em gestão de resíduos na América Latina, pois a companhia tem presença no Chile, Peru e Paraguai). Ao mesmo tempo, reforçou sua área de mineração, na qual a empresa comprada é forte.
Mas para que essa “máquina de fusões e aquisições” não emperre, a Ambipar vai precisar de mais dinheiro para que possa seguir funcionando de forma azeitada. Desde o IPO, a companhia já investiu aproximadamente R$ 1,5 bilhão em M&As, de acordo com Thiago Silva, diretor financeiro da Ambipar.
Na compra da chilena Disal, que fez mais do que dobrar o tamanho de sua área de gestão de resíduos, por exemplo, a Ambipar emitiu R$ 900 milhões de debêntures. Silva diz ainda que há espaço para financiar esses negócios via balanço da empresa.
Com as aquisições recentes, a companhia, que tinha R$ 193,9 milhões no caixa depois de descontada a dívida bruta, passará a ter um endividamento de 2 vezes o seu Ebtida, segundo Silva. O executivo acredita que pode chegar a 2,5 vezes o Ebitda. Mas admite: vai precisar buscar recursos para seguir executando o plano. “Estamos avaliando todas as opções, sejam ela se alavancar ou, eventualmente, acessar o mercado de capitais”, diz Silva.
Na semana passada, surgiram rumores no mercado que a Ambipar iria fazer uma cisão da sua área de gestão e resíduos da de atendimento a emergências e, assim, buscar mais recursos. As ações disparam com os boatos, subindo quase 30% desde o dia 27 de julho. Desde o IPO, em julho do ano passado, os papéis já avançaram 117% – a companhia vale R$ 6,2 bilhões. Sobre a cisão, Andriotti diz que a hipótese é bem remota. “É boato mesmo”, diz a CEO da Ambipar.
Em fato relevante, comentando sobre a questão da cisão das divisões, a Ambipar não foi tão categórica, dizendo que ‘está constantemente avaliando alternativas de captação de recursos para fortalecer as estrutura de capital e financeira do grupo, bem como financiar futuras aquisições e expansões’. “Essas alternativas podem incluir, entre outras, operações de mercado de capitais que envolvam o negócio de gerenciamento de resíduos.”
Em relatório em que aumentou o preço-alvo das ações da Ambipar para R$ 51 (na quarta-feira, 4 de agosto, elas fecharam a R$ 55,39), o BTG Pactual traçou uma visão otimista sobre a empresa, acreditando que ela conseguirá manter sua máquina de aquisições funcionando. “Continuamos construtivos com a estratégia de crescimento da companhia, especialmente com sua expansão nos Estados Unidos”, escreveram os analistas João Pimentel e Gisele Gushiken.
A favor da companhia, pesa o fato de haver poucas companhias com o escopo de atuação da Ambipar no Brasil. Na B3, a única empresa que compete com ela é a Orizon, que abriu o capital em fevereiro deste ano, e atua no setor de destinação de resíduos sólidos. Na ocasião, captou R$ 554 milhões. Hoje, vale R$ R$ 1,8 bilhão com alta de seus papéis, desde o IPO, de mais de 18%.
Integração e ESG
Ao mesmo tempo que busca formas para manter a “máquina de fusões e aquisições” em funcionamento, a Ambipar corre para integrar essas compras. A estratégia é manter os fundadores à frente da gestão, livrando-os dos serviços administrativos. “Nosso objetivo com as empresas adquiridas é que os antigos donos foquem no comercial e no operacional. Cuidamos de toda a parte financeira, cobrança, faturamento, jurídico e tributário”, diz Andriotti.
Desde 2012, a Ambipar conta com um centro de serviços compartilhados, cuja missão é cuidar dessa integração que vai da folha de pagamento ao ERP. Em média, uma empresa dura de três e seis meses para vir à bordo. A AFC, comprada em janeiro e que marcou a expansão da Ambipar para a região Norte e Nordeste na área de resíduos industriais, passou a rodar no sistema da Ambipar em julho. “Temos todos os controles nas mãos”, diz Costa.
Atualmente, a companhia atua em 19 países das Américas, Europa, África e está até mesmo na Antártida, onde atende navios de cruzeiros. No primeiro trimestre deste ano, a receita bruta somou R$ 297,4 milhões, alta de 82,2%. O lucro líquido atingiu R$ 32,3 milhões, um avanço de 195,7%. Esse crescimento não pode ser atribuído exclusivamente aos M&As – tanto que a maior quantidade deles aconteceu entre junho e julho.
A Ambipar, fundada por Tercio Borlenghi Junior, em 1995, em Nova Odessa, no interior de São Paulo, surfa também na onda ESG (environmental, social and corporate governance), que cada vez mais ganha relevância no mercado financeiro, o que exige que empresas sejam mais responsáveis com o destino de seus resíduos. Com 10 mil clientes de todos os portes, a companhia se beneficia desse cenário. “É uma alavanca”, admite Andriotti. “Mas essa é uma agenda que sempre esteve presente na companhia.”
No fim de julho, a Ambipar ganhou um reforço e tanto na sua agenda ESG do ponto de vista de marketing: a modelo Gisele Bündchen. Ela não só se tornou acionista da empresa, como também fará parte do comitê de sustentabilidade, além de participar de campanhas publicitárias. “Gisele quis conhecer melhor a empresa, nossos serviços e produtos, e saber de cada detalhe”, afirma Andriotti.
Na gestão de resíduos, por exemplo, a Ambipar não apenas descarta itens em aterros sanitários. Ao contrário, busca dar uma nova destinação a eles, dentro do conceito de economia circular. Um exemplo, segundo Andriotti, são cápsulas da indústria farmacêutica que podem se transformar em sabonete de colágeno ou xampu. Ou biscoitos que podem virar ração animal. “Cada segmento tem um tipo de solução”, diz a CEO da Ambipar.
Na avaliação da corretora Ativa Investimentos, a companhia tem muito a ganhar com o crescimento da relevância da pauta ESG no Brasil. “A companhia pode ser uma das grandes vencedoras do ganho de relevância da agenda verde no país”, afirmou o analista Ilan Arbetman, em relatório divulgado no começo de julho.
Com uma garota-propaganda como Gisele Bündchen pode ser que seja mais fácil convencer os clientes, assim como os investidores para que a “máquina de aquisições” não pare.