Por Equipe de Redação
Publicado em 28 de julho de 2023
Títulos verdes: os ativos terão um crescimento de 2,5% na emissão global vinculados à sustentabilidade, segundo o S&P Global (Getty Images/Reprodução).
Popularizado em 2021, os títulos verdes são alternativas de investimentos vinculados a objetivos para lidar com as mudanças climáticas.
Ambipar, Grupo Fleury e Vivo atuam em diferentes setores, mas há algo que une essas três empresas: o investimento recente em títulos verdes. Em 2023, é esperado um crescimento de 2,5% na emissão global desse tipo de dívida, que é atrelada a metas de sustentabilidade — o seguimento também é conhecido como GSSSB (em inglês, green, social, sustainability and sustainability-linked bonds). É o que diz o estudo Credit Trends, Global Financing Conditions: Bond Issuance Is Set To Expand Modestly In 2023, With Stronger Upside Potential da S&P Global, empresa financeira que realiza análises de crédito levando em consideração os ativos cotados na NYSE, bolsa de valores de Nova York, e na NASDAQ, bolsa americana especializada em tecnologia.
Os números apenas confirmam que investir em títulos verdes têm se tornado uma onda entre as empresas, quando se discute sustentabilidade. Ainda de acordo com o levantamento, a previsão de emissão global desse tipo de títulos pode atingir 900 bilhões a 1 trilhão de dólares em 2023. Segundo o banco do Reino Unido, Barclays, a tendência de crescimento segue a lógica de dois anos atrás, quando os títulos contaram com uma taxa de crescimento de mais de 150%, em relação a 2020.
Segundo a organização internacional Climate Bonds Initiative (CBI), na América Latina, os green bonds mais que dobraram entre 2021 e o ano passado. Já no Brasil, a negociação do papel gerou 5,3 bilhões de reais na B3, através de 18 emissões realizadas por 12 empresas diferentes durante o ano de 2020.
Os títulos verdes (do inglês, green bonds) são instrumentos financeiros de renda fixa. Esses ativos sustentáveis podem ser debêntures, debêntures incentivadas (do ramo de infraestrutura), os Certificados de Recebíveis, tanto do Agronegócio (CRA) ou os Imobiliários (CRI). Os títulos verdes são negociados na bolsa como qualquer outro ativo e a forma de emissão não muda: empresas, entidades e governos podem emitir esse tipo de título. Ou seja, a entidade emissora garante o reembolso do título acrescido de uma taxa de retorno fixa ou variável em um determinado período.
O que muda, no caso dos chamados green bonds, é o objetivo destes ativos. No caso dos títulos verdes, é ser um facilitador para a captação de recursos pensando em levantar financiamento para lidar com as mudanças climáticas e as emissões de carbono, fomentar a economia verde e apoiar uma maior quantidade de projetos e atividades econômicas sustentáveis. Em outras palavras, o objetivo do investimento é que o emissor alcance metas ESG, mas caso não sejam cumpridas, os juros pagos aos ‘donos’ dos títulos aumentam.
Historicamente, o primeiro título verde foi emitido na Polônia em 2016. Mas eles se tornaram uma agenda sustentável com relevância global durante a COP26, na cidade escocesa de Glasgow, onde a pauta ganhou força. Ali, foram discutidos a regulamentação e formalização dos financiamentos sustentáveis. No Brasil, a B3, bolsa brasileira, conta com produtos financeiros relacionados aos parâmetros ESG (do inglês, meio ambiente, social e governança) desde 2018.
Em julho de 2021, o Grupo Fleury realizou a primeira emissão de debêntures ligadas a metas ESG, como conta Robson de Miranda, diretor corporativo de finanças do grupo, em entrevista à EXAME. Segundo ele, essa foi a primeira emissão de debêntures com componentes sustentáveis do setor de saúde no Brasil, na casa de 1 bilhão de reais, que foram divididos em três séries. No caso do Fleury, os investimentos contam com duas metas: reduzir a geração de resíduos infectantes em 14% até 2023 e 20% até 2025, além de facilitar o acesso à saúde para clientes de classes C, D e E, com a previsão de que serão 250 mil clientes dessas classes até 2024 e 1 milhão de clientes até 2026. Esses dois pontos foram incluídos como indicadores corporativos e de PLR (Participação nos Lucros e Resultados) do grupo.
“A emissão de uma debênture SLB (do inglês, Sustainability-Linked Bonds) foi importante para trazer esse comprometimento público das práticas ESG atrelado aos aspectos financeiros, inovar na estrutura da emissão financeira e atrair investidores conscientes e preocupados com a geração de valor de longo prazo”, afirmou Miranda.
As emissões das debêntures refletem um contexto interno em prol da sustentabilidade apoiado pela companhia. “A empresa tem feito investimentos para redução da geração de resíduos biológicos, principalmente, por meio de mudanças em metodologias que promovam o agrupamento de exames, permitindo que mais exames sejam feitos a partir de um mesmo tubo, reduzindo a quantidade de tubos coletados do paciente”, disse Daniel Périgo, gerente sênior de ESG do Grupo Fleury, “Queremos buscar outras soluções no ambiente de inovação e empreendedorismo que possam contribuir para o atingimento das metas de debêntures”.
Levando em consideração o Sustainability-Linked Financing Framework, uma avaliação independente realizada pela Bureau Veritas e indicadores do ano-base de 2021 com auditoria de empresas independentes (AENOR e PwC), a Vivo tomou a decisão de realizar a primeira emissão de SLB no valor de R$ 3,5 bilhões em 2022. Com esse investimento, as ambições são reduzir em 40% as emissões diretas de gases de efeito estufa (GEE) no escopo 1 em relação a 2021 – além de atingir um indicador maior ou igual a 30% de negros em cargos de liderança, ambos até 2027.
“A iniciativa contribuiu para consolidar e impulsionar ainda mais o tema dentro da organização. A meta de emissões de GEE estabelecida pela Vivo é um desdobramento dos desafios climáticos do grupo Telefônica, aprovados pelo Science Based Targets Initiative (SBTi). Este compromisso reforça a atuação da nossa empresa frente ao cenário de mudanças climáticas e nossa contribuição para limitar o aquecimento global a 1,5ºC”, afirmou Renato Gasparetto, vice-presidente de relações institucionais da Vivo.
Além disso, a empresa conta com projetos de inclusão racial e de PCD (Pessoas com Deficiência), além de iniciativas para fomentar lideranças femininas e gerar saídas sustentáveis para o lixo eletrônico.
“Transformamos nosso negócio em um ecossistema digital para sermos, fundamentalmente, uma empresa de tecnologia e continuarmos crescendo de forma sustentável. Em 2022, realizamos um dos maiores investimentos de nossa história, R$9,5 bilhões, destinados a levar conectividade a milhões de brasileiros com a expansão de nossa rede de fibra e tecnologias móveis, como o 5G. Ao mesmo tempo, evoluímos em nossos indicadores ESG, como os de emissões e diversidade”, disse Gasparetto.
Assim como a Vivo, a Ambipar emitiu as dívidas associadas às metas ambientais e sociais no ano passado, é o que conta Rafael Tello, diretor de sustentabilidade do Grupo Ambipar. Mas o ponto de partida para a empresa foi a publicação do Framework de Finanças ESG, em agosto do ano passado – documento que continha o posicionamento do grupo sobre os impactos socioambientais. Com isso, a empresa emitiu três debêntures.
“Nosso negócio é ligado à prestação de serviços e à venda de produtos com impacto socioambiental positivo. Por isso, associar o financiamento de nossas atividades e aquisições a requerimentos socioambientais reforça para o mercado o nosso compromisso com a sustentabilidade. Além disso, com as debêntures, abrimos espaço para que investidores possam financiar atividades com benefícios socioambientais específicos, que podem facilitar a composição de carteiras ESG”, disse Tello.
Para Tello, com as debêntures a empresa se tornou mais atenta aos pontos socioambientais dentro das suas atividades. “Assim, temos mais clareza de como os nossos diferentes negócios podem contribuir com os diferentes desafios da sustentabilidade no mundo. E estamos trabalhando para aprimorar nosso sistema de gestão para monitorar os impactos socioambientais de nossos negócios, sempre visando alcançar nossas metas públicas de sustentabilidade e a ambição do Grupo em liderar a transição para uma economia circular e de baixo carbono”, disse.
As finanças verdes podem acelerar e ampliar a agenda de sustentabilidade, pois o diálogo com analistas e investidores pode gerar aproximação entre os resultados socioambientais e o mercado financeiro, afirmou Tello.
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