Por Equipe de Redação
Publicado em 23 de setembro de 2024
“Estava do outro lado da mesa, no Bank of America, e vim para cá porque acredito muito nesse novo momento e no propósito da companhia. Não vejo nada similar na Bolsa Brasileira”. diz o CFO (Imagem: Linkedin/João Arruda)
Em meio a uma bolsa com desempenho hesitante, uma empresa chamou a atenção de investidores: o Grupo Ambipar (AMBP3), que atua, principalmente, no tratamento de resíduos, e disparou incríveis 1258% em três meses.
Segundo dados da Elos Ayta, no dia 28 de maio a ação tocou em sua mínima, a R$ 8,05, para disparar a R$ 109,98 em 12 de agosto. Quem investiu ou tinha R$ 1 mil em maio saiu com ganho total de R$ 13.580.
Apesar disso, o papel realizou parte dos lucros e cai 31% desde o seu pico, mas o desempenho continua invejável no ano, com disparada de 381%.
Tal salto fez parte do mercado questionar os fundamentos da companhia e se perguntar o que estava por trás do aumento explosivo. Afinal, o que mudou em tão curto espaço de tempo?
Na visão de alguns analistas, a alta foi motivada por short covering. Isso ocorre quando a ação sobe enquanto há grande quantidade de ‘shorteados’, ou seja, vendidos no papel. Para limitar as perdas, esses investidores tratam de se desfazer das operações o mais rápido possível, o que alimenta a disparada.
Em outras palavras: suponha que você apostou que o preço do ingresso para um show iria cair. Você vendeu 10 ingressos a R$ 100 cada. Mas, ao invés de cair, o preço sobe para R$ 120. Para evitar perdas maiores, você compra os ingressos de volta a R$ 120 cada. Esse ato de comprar os ingressos de volta para encerrar sua posição é o short covering.
Dados da XP de meados de junho mostravam que a AMBP3 tinha o maior ‘short interest’ — o número total de ações de uma empresa que foram vendidas a descoberto (short) — entre os papéis analisados, acima de outras companhias, como Americanas (AMER3).
Uma compra de ações do fundador da Ambipar, Tercio Borlenghi Júnior, poderia ter engatilhado o movimento, diz a Guide, em relatório publicado em 24 de julho. A participação do CEO passou de 66% para 73%.
“Esse aumento significativo [das ações] ocorreu sem quaisquer alterações nos fundamentos da empresa. À medida que as ações continuam a subir, com um número cada vez menor de posições vendidas, a probabilidade de uma queda acentuada nos próximos dias aumenta”, escreveu a casa.
Na época, a Guide recomendou, enfaticamente, que os investidores da Ambipar considerassem a venda de suas ações.
Mas será que só isso explica a alta? Desde a data da publicação do relatório, a ação subiu 114%, segundo dados do Google Finance. E desde 3 de setembro, parece ter se estabilizado na faixa dos R$ 60.
Em busca de respostas, o Money Times conversou com o CFO da companhia, João Arruda.
O executivo destaca que o crescimento é fundamentado e que a empresa teve bons resultados no segundo trimestre.
Houve recorde no Ebitda, que mede o resultado operacional, na receita e margem Ebitda nas duas verticais:
“Quando olho para o momento atual da companhia, vejo um novo capítulo, com muito foco interno e geração de valor. O que vimos no segundo trimestre e também no primeiro trimestre do ano é apenas o começo. O foco será muito interno para extrair mais resultados, com menos recursos”, diz.
A empresa também está em um processo de enxugamento das dívidas, após uma agressiva expansão inorgânica, com a compra de 76 empresas desde o IPO, em 2020.
Entre as medidas anunciadas até agora, está a renovação da frota vendendo usados e alugando novos e a entrega de ações da companhia para sócios executivos das empresas adquiridas como meio de pagamento antecipado.
Veja os principais trechos da entrevista abaixo:
Money Times: A ação da Ambipar é um dos grandes destaques em 2024. No entanto, analistas dizem que essa disparada aconteceu sem que houvesse mudanças no fundamento da empresa. Ou seja, ela não é sustentável. Como veem isso? Há motivos para a alta da ação?
João Arruda: A companhia vem entregando resultados de forma consistente, com bastante fundamento. Gostaria de reforçar esse ponto.
Se você for ver o nosso resultado do segundo trimestre, as aquisições feitas lá atrás, no meio do ano passado, foram interrompidas quando a companhia já vinha cessando o ciclo de crescimento inorgânico, e o crescimento orgânico começou a ser capturado internamente.
No resultado do segundo trimestre, houve recorde de receita, de Ebitda e de margem Ebitda nas duas verticais e no consolidado da companhia, com muito menos Capex (investimentos).
A empresa está, de fato, em um ciclo bastante construtivo de crescimento orgânico, o que é demonstrado pelos números. No segundo trimestre de 2024, em comparação com o segundo trimestre de 2023, o crescimento foi de 17,5%, 100% orgânico.
Se analisarmos os seis meses acumulados do ano, em comparação com o ano passado, o crescimento foi de 14,4%. A companhia está em um ritmo de crescimento sustentável orgânico, com bastante fundamento.
Também houve um aumento significativo de receita no trimestre, com uma intensidade de capital muito baixa em comparação ao histórico da companhia. Para ter uma ideia, nos seis meses acumulados do ano, a receita foi entregue com um Capex sobre receita líquida da ordem de 9,5%.
Foi o menor Capex sobre receita líquida da história da companhia. Já houve momentos no passado em que essa métrica chegou a 20%.
Money Times: Circula no mercado que a alta dos papéis foi motivada pela compra do próprio CEO, Tercio Borlenghi Junior. Isso não deixa a governança da empresa prejudicada? Como avaliam esse movimento?
João Arruda: O controlador, Tercio, comprou ações no mercado, mas isso não é algo novo. Vale lembrar que, antes do IPO da companhia, Tercio comprou metade das ações das irmãs, que eram sócias, quando a empresa ainda era fechada.
No primeiro semestre do ano passado, ele comprou o restante das ações das irmãs, algo em torno de R$ 10 a R$ 12 adicionais ao preço, totalizando cerca de R$ 13.
Ele comprou as ações das irmãs pelo preço do IPO, no início de 2023, e colocou mais dinheiro no follow-on em novembro. O follow-on, que foi 100% primário em novembro, recebeu mais investimento dele. Não posso falar diretamente por Tercio, mas, obviamente, ele comprou as ações em um momento de grande desconto, voltando a aumentar sua posição.
Entendo que essa decisão reflete uma visão de longo prazo para a companhia. Ele nunca deixou de ser o controlador. No passado, ele reassumiu a posição de CEO para continuar liderando a operação da companhia, o que demonstra que está comprometido com o futuro da empresa e acredita muito no negócio.
Money Times: A grande volatilidade do papel na bolsa não pode assustar o investidor?
João Arruda: Eu não posso falar pela subjetividade do investidor sobre o que é arriscado ou não para ele. O que posso dizer é que estamos ao lado da companhia, em uma trajetória muito construtiva, com foco na geração de valor futura. Como mencionei, o resultado operacional é muito sólido, com grande foco nessa jornada.
Estou na companhia há quase dois meses, mas já a acompanho há quase 10 anos, quando atuava do outro lado da mesa, como banqueiro. Participei de várias operações de mercado de capitais para a Ambipar, incluindo o IPO, follow-on, emissão de bonds e dívida.
Quando olho para o momento atual da companhia, vejo um novo capítulo, com muito foco interno e geração de valor. O que vimos no segundo trimestre e também no primeiro trimestre do ano é apenas o começo. O foco será muito interno para extrair mais resultados, com menos recursos, como exemplifiquei na métrica de Capex.
Money Times: Analistas também destacam a alta alavancagem da companhia, após uma sequência de fusões e aquisições. Como está esse processo de enjugamento? A empresa vai interromper o crescimento inorgânico?
João Arruda: Inclusive, Tércio veio ao mercado na primeira entrevista após o IPO, no começo deste ano, reforçando o tema de não mais focar no crescimento inorgânico. A plataforma já foi construída e expandida da forma como desejávamos, tanto na área de Environment quanto na de Response. Portanto, esse não é mais um objetivo.
Quando menciono que o crescimento de receita no trimestre foi muito sólido, foi 100% orgânico. Esse é o padrão da companhia. Vamos extrair mais da operação, realizar mais cross-sell (oferecer produtos e serviços relacionados ao que o cliente já compra) hoje estão tanto na Environment quanto na Response.
O novo foco é ganhar share of wallet (participação financeira de uma empresa nos gastos totais de um cliente) e gerar mais a partir da nossa base de ativos. Assim, o crescimento inorgânico já está fora da agenda há algum tempo.
Money Times: Em junho, vocês anunciaram um amplo programa de recompra de ações; normalmente, quando ocorrem esses programas é porque a empresa acredita que a ação está barata. Vocês ainda acham que a empresa está barata?
João Arruda: Estamos em um momento de grande captura de valor. A empresa está sendo negociada na bolsa com um múltiplo de 9 vezes, enquanto nossas comparáveis globais estão entre 15, 17 e até 20 vezes, dependendo da região e do mercado que se analisa. Vemos muito potencial de geração de valor.
Estamos em um momento bastante construtivo do ponto de vista de receita. Havíamos dado um guidance de 10% para o ano, mas no semestre já estamos em 15%, cerca de 500 pontos-base acima do guidance para o final do ano. Estamos superando o que foi inicialmente prometido, com a geração de Ebitda seguindo na direção correta.
Estamos expandindo margem e tivemos margem recorde nas duas verticais no segundo trimestre de 2024. O futuro é bastante promissor, e ainda enxergamos um grande potencial para a companhia.
Money Times: Um dos grandes cases da Ambipar é o ESG. Como está vendo esse segmento? O que a Ambipar está fazendo para gerar valor ao seu acionista?
João Arruda: A tese ESG da companhia continua muito forte. O propósito é descarbonizar e regenerar a vida dos clientes, garantindo que todo o resíduo produzido não siga para o aterro, promovendo o conceito de aterro zero. Estamos muito focados na economia reversa e na economia circular, transformando o resíduo e reintegrando-o à economia. Esse é o propósito da companhia e o que oferecemos aos nossos clientes.
Mantemos esse foco porque, ao gerar valor e diferencial para os clientes, também geramos para os acionistas. Não à toa, a vertical ESG atingiu recordes de receita e crescimento de Ebitda, e continuará sendo um segmento prioritário para nós. Acreditamos que é um caminho sem volta, com muito a ser feito no futuro, em colaboração com nossos clientes.
A mensagem que quero deixar é que a Ambipar está entrando em um novo capítulo, com foco interno, geração de caixa e extração de mais resultados da operação e da plataforma que construímos. Nosso propósito é descarbonizar a vida de todos os nossos clientes, e é um propósito único e diferenciado.
Estava do outro lado da mesa, no Bank of America, e vim para cá porque acredito muito nesse novo momento e no propósito da companhia. Não vejo nada similar na Bolsa Brasileira.
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