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UOL Ecoa por Mariana Sgarioni - 05/08/2024

Equipe redação

Por Equipe de Redação
Publicado em 5 de agosto de 2024

Mauro Homem, vice-presidente de Sustentabilidade e Assuntos Corporativos do Grupo Heineken
Imagem: Divulgação.

O vidro é aquele tipo de material que desperta sentimentos ambivalentes. Por um lado, o composto de areia, sódio e cálcio tem o incrível poder de ser 100% reciclado infinitamente – sem perder nenhuma qualidade. Por outro, tem dificuldade de transporte e baixo valor de venda. Resultado: menos de 25% do vidro usado no país hoje é reciclado.

“Muita gente acha que o vidro é um vilão, mas é o contrário: ele é um excelente material sustentável. Mas é preciso um sistema de logística reversa. Há países que estão convertendo todo o plástico em vidro, por exemplo. Precisamos estruturar isso no Brasil também”, defende Mauro Homem, vice-presidente de Sustentabilidade e Assuntos Corporativos do Grupo Heineken.

Há pouco mais de um mês, a empresa anunciou uma parceria com a Ambipar, que trabalha com gestão ambiental, para aumentar a circularidade das garrafas de vidro, principal material das embalagens da Heineken, e dar conta das 500 mil toneladas de garrafas que descarta anualmente. O ponto de partida é cobrir áreas em que o volume de embalagens é alto, mas a coleta de vidro é quase inexistente. Serão construídos centros de recebimento, triagem e beneficiamento do vidro (hubs) para que, ao final do processo, o resíduo seja reincorporado na cadeia vidreira, aumentando o percentual de conteúdo reciclado nas garrafas. A ideia é fazer um sistema fechado que garante a logística reversa e uma melhor remuneração para todos os elos dessa cadeia.

A parceria faz parte do Spin, um novo ecossistema de soluções de sustentabilidade da Heineken, que se propõe a construir novos negócios que vão além da cerveja. “Estamos até plantando limão, algo que nunca fizemos na vida”, conta Homem, referindo-se à parceria com a Rizoma, que desenvolve sistemas agrícolas regenerativos orgânicos. O objetivo da companhia é ampliar a viabilidade econômica dos seus compromissos de sustentabilidade.

Na entrevista a seguir, o executivo fala sobre a necessidade econômica da reciclagem do vidro, explica formas de melhorar o aproveitamento do material, e chama a atenção para o personagem principal de toda esta cadeia: os catadores.

Ecoa: O potencial sustentável do vidro é tão relevante que já foi propagado pela ONU. Entretanto, o material que pode demorar até cinco mil anos para se decompor segue acumulando nos aterros. Por quê?

Mauro Homem: O vidro é um material infinitamente reciclável. Ele pode ser quebrado, derretido, e refeito inúmeras vezes nas vidreiras. Esta reciclagem tem um custo baixo de energia e de material. Ou seja: vale a pena reciclar vidro. O desafio é fazer com que ele chegue para esta reciclagem. A logística de transporte é muito complexa. Sem contar que o valor de venda do vidro é muito mais baixo se comparado a outros tipos de materiais, como o alumínio, por exemplo. Isso gera um desinteresse por parte dos catadores.

Ecoa: Você citou o alumínio, que hoje lidera o ranking de reciclagem no Brasil, ao contrário do vidro. A Heineken trabalha com os dois materiais. Qual a diferença entre eles?

Mauro Homem: O Brasil é recordista mundial de reciclagem de latas de alumínio para bebidas. Há um mercado forte no país. Muita gente depende da catação de latinhas para sobreviver. O material é fácil de ser manuseado e de ser transportado: você amassa e leva muitas latas. O vidro não. Ele tem um valor de mercado menor e um custo logístico muito maior. Por isso queremos criar um mercado onde não existe. Encurtar as distâncias. Em parceria com a Ambipar, vamos espalhar 9 hubs em todo o país para a coleta de vidro – isso vai aumentar o volume e mudar o ponteiro da reciclagem do vidro. Reciclar é importante não apenas para reduzir o impacto ambiental, mas também como fator econômico no nosso negócio. É mais barato para a empresa reciclar uma embalagem do que produzir uma nova.

Ecoa: Qual o papel do consumidor neste processo?

Mauro Homem: Se o consumidor não entender que a garrafa precisa ir e voltar, nada adianta. O melhor a fazer são as embalagens retornáveis e isso já funciona em bares e restaurantes. Para engajar o consumidor, criamos o programa Volte Sempre, com máquinas de coleta em supermercados e condomínios.

Ecoa: Existe uma outra ponta que são os catadores. Qual a importância destes profissionais para a Heineken?

Mauro Homem: Antes de falar do negócio, é bom lembrar que, no geral, sem os catadores, a qualidade ambiental seria muito pior. Você vê pessoas xingando os carroceiros nas ruas, quando, na verdade, deveriam agradecer pelo serviço que eles prestam. Para a empresa, o trabalho do catador é essencial. Sem ele, não conseguimos fazer a embalagem voltar ao ciclo, portanto não conseguimos cumprir nossa meta de circularidade de materiais. E como eu disse, isso se traduz em custos. Temos diversas ações junto aos catadores no Instituto Heineken porque queremos que eles trabalhem de forma digna, com saúde física e mental. Precisamos amplificar as vozes dos catadores e, enquanto a sociedade não entender estes profissionais como prestadores de serviço, a cadeia nunca vai fechar.

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