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TradeMap por Ana Julia Mezzadri - 08/09/2022

Equipe redação

Por Equipe de Redação
Publicado em 8 de setembro de 2022

Companhia mantém estratégia de crescimento acelerado por meio de aquisições, afirma Thiago Silva.

Com 42 aquisições em diferentes segmentos e países, a receita da Ambipar (AMBP3) registra crescimento de mais de 385% desde que as ações da companhia de gestão ambiental estrearam na Bolsa de valores, em julho de 2020. O montante somou R$ 853,4 milhões no segundo trimestre deste ano. Entre julho e setembro de 2020, alcançava R$ 175,9 milhões.

As ações da empresa, porém, não acompanham esse ritmo de crescimento. De acordo com dados da plataforma TradeMap, entre o IPO e o fechamento da última segunda-feira (5), a valorização acumulada pelos papéis é de apenas 3,6%.

Na análise de Thiago Silva, CFO (Chief Financial Officer) da Ambipar, isso se deve ao desconhecimento do mercado em relação ao negócio da companhia. Segundo ele, a empresa vem adotando medidas para tentar reverter esse quadro.

“Como é um negócio novo na Bolsa, temos a impressão de que, quando o mercado de fato conhecer o nosso negócio e o potencial dele, a valorização da ação é um caminho natural”, afirmou o executivo, em entrevista à Agência TradeMap. “Estamos fazendo um trabalho forte para isso, reforçando a equipe de relações com investidores e tendo cada vez mais interações com o mercado”, completa.

A Ambipar foi fundada em 1995 por Tercio Borlenghi Junior, que hoje ocupa o cargo de presidente do conselho da companhia, com o objetivo de atuar no gerenciamento de resíduos. Desde então, a companhia expandiu suas operações e hoje conta com duas subsidiárias: a Ambipar Environment, especializada em soluções ambientais, e a Ambipar Response, que atua na gestão de crises e no atendimento a emergências.

Nos próximos meses, a Ambipar Response deve dar um passo importante. A subsidiária passará a ter ações listadas na Bolsa de Nova York. A operação se dá por meio da combinação de negócios da subsidiária com uma SPAC (sociedade de aquisição de propósito específico), formando uma nova companhia da qual a Ambipar deterá uma fatia de aproximadamente 72%.

Silva espera ver os papéis da Response estrando nos Estados Unidos no mês que vem.

Confira a seguir a entrevista completa com o CFO da Ambipar.

Podemos começar falando das aquisições, que foram várias desde o IPO. Este ritmo deve continuar? Por que a Ambipar tem apostado tanto no crescimento por aquisições?

Continuará. Está dentro do nosso plano seguir com a estratégia de M&A (fusões e aquisições) para buscar crescimento acelerado. Obviamente, poderíamos começar esses negócios que adquirimos, seja para conquistar novas geografias, seja por novas tecnologias ou por complemento do portfólio de serviços, do zero. Mas qualquer operação greenfield tem um tempo de maturação. E o M&A, do modo em que fazemos, tem dado muito certo. Acreditamos que seja a melhor forma possível para crescer aceleradamente e tomar um tamanho que de fato nos deixe bem distantes de qualquer outro competidor. Essa é a estratégia: crescer aceleradamente por meiode aquisições.

Quais são os critérios por trás das aquisições?

[O critério] é a geografia (…) ou a ampliação de portfólio. Fizemos, por exemplo, a aquisição da Boomera, que atua na parte de pós-consumo, a da Biofílica, na parte de crédito de carbono, como complemento de portfólio. Buscamos empresas que tenham a parte reputacional muito forte, com bons gestores e executivos.

Temos tido crescimento não só aqui no Brasil, com a aquisição, por exemplo da Ambipar Nordeste, como também fora do Brasil, principalmente na Response. Temos crescido muito na América do Norte por meio de aquisições.

A nossa grande visão dentro de uma aquisição, seja em uma estratégia de geografia ou de novos serviços, é a possibilidade de venda cruzada. Olhamos a linha de receitas e buscamos um grande potencial de expansão não só para as adquiridas, entrando dentro do nosso ecossistema, mas também para a própria Ambipar, por meio da exploração das carteiras de clientes que essas empresas trazem. Essa é a estratégia por trás das aquisições.

Muitas das últimas aquisições foram concentradas na América do Norte. Por que a Ambipar tem apostado tanto na região?

Isso vem desde o nosso IPO, em julho de 2020. Desde lá, já falávamos sobre essa geografia, que era um desejo nosso. Enxergamos um mercado extremamente pulverizado e regionalizado na parte de resposta a emergência. A Ambipar criou, aqui no Brasil, um business que tem capilaridade nacional num país de dimensão continental. Então, criamos essa forma padronizada e totalmente replicável de atendimento a emergências – tanto que fizemos isso na América Latina. Hoje somos líderes no Chile e no Peru, temos negócios na Colômbia, no Uruguai, na própria Antártida por meio da base do Chile. Conseguimos criar um negócio replicável. E não vimos nenhum player com essa forma de olhar essa vertical de prestação de serviço de resposta no mercado americano. Verificamos que há uma oportunidade e desde lá já fizemos aquisições na América do Norte e comprovamos que, de fato, é assim que o mercado funciona lá. E que há uma grande possibilidade de fazermos um business muito similar ao que temos no Brasil. Estamos conquistando uma capilaridade, já trazendo as carteiras de clientes que essas companhias têm, trazendo a reputação. Estamos vendo como uma grande oportunidade, um mercado enorme que poderemos conquistar da forma como estamos fazendo na América Latina.

Além da América do Norte, há planos para começar a investir com mais força em outros continentes?

Temos uma operação no Reino Unido desde 2018, e fizemos duas aquisições lá depois disso. Temos um plano de expansão na Europa. No curtíssimo prazo, seria isso: Europa, América do Norte e América Latina. Mas não está descartado, num futuro distante, expandirmos para outros continentes.

Ainda há espaço para aquisições no Brasil? Se sim, qual é a estratégia? 

Tem espaço. (…)  Ainda há um mercado muito grande, principalmente no segmento de meio ambiente. Então, temos, sim, olhado com bastante carinho para M&As por aqui também, mas sem deixar de lado o crescimento orgânico. O ecossistema que criamos de fato tem potencial de crescimento orgânico muito forte.

A empresa ainda tem caixa para aquisições ou pode precisar ir ao mercado? 

Temos. Fizemos algumas emissões de dívida no começo do ano, e ainda estamos alocando esse recurso. Temos agora transação com a Spac, que vai nos dar uma folga de alavancagem bem interessante. E esse recurso já está garantido. Então, temos bastante recurso para continuar crescendo. Não vamos tirar o pé do acelerador.

Isso também vai ajudar a diminuir o endividamento?

Com certeza.  No segundo trimestre, divulgamos uma alavancagem de 2,8 vezes dívida líquida/Ebitda. Com essa operação, esperamos reduzir para 1,4 vez, aproximadamente.

O foco segue em crescimento e não necessariamente em uma normalização de resultado líquido?

Segue em crescimento. Estamos vendo uma ótima oportunidade, e não estamos vendo ninguém olhando para essa cadeia de serviços com o propósito que temos. Então queremos fazer, e fazer rápido, para continuar navegando no oceano azul.

A Ambipar tem crescido bastante, mas as ações ainda não estão acompanhando esse avanço. A que vocês creditam isso?

Eu acho que é questão de conhecimento do negócio em si. Estamos fazendo um trabalho forte para isso, reforçando a equipe de relações com investidores, tendo cada vez mais interações com o mercado e participando de todas as conferências para as quais somos convidados, para o mercado de fato conseguir compreender. Como é um negócio novo na Bolsa, temos a impressão de que, quando o mercado de fato conhecer o nosso negócio e o potencial dele, a valorização da ação é um caminho natural.

Isso também deve vir com a maturação dessas aquisições? Qual é o período médio de maturação das empresas adquiridas?

Somos muito rápidos em incorporar aquisições e começar a capturar sinergias que, como eu disse, estão majoritariamente na venda cruzada. Isso porque não compramos empresas ruins para melhorá-las. Compramos empresas muito boas, que já têm o seu business, têm geração de caixa e que, plugadas ao ecossistema Ambipar, terão um potencial enorme de crescimento. As capturas já começam no dia depois da aquisição e vão perdurando.

O ganho de importância da pauta ESG também pode colocar as ações no radar do mercado?

Com certeza. Hoje, na nossa base de acionistas, temos muita pessoa física, muita gente olhando a Ambipar como uma referência em ESG (sigla em inglês referente a ações voltadas para o meio ambiente, a área social e a de governança). Não é diferente dos nossos clientes, que estão olhando a Ambipar como um provedor específico para isso. Temos participado de conferências e visto bastante demanda do próprio mercado financeiro, que está carecendo de ações que têm o ESG no propósito. E a Ambipar é uma delas. Temos ESG como negócio.

Vocês anunciaram recentemente que vão começar a vender créditos de carbono via token. Por que a decisão de comercialização dessa forma?

É a Ambipar sendo pioneira, como a história da companhia demonstra. A tokenização traz a popularização do crédito de carbono. Normalmente, esses créditos são comercializados no B2B (business to business, entre as empresas), aos quais a pessoa física acaba não tendo acesso. Fazendo a tokenização, desmembramos o crédito de tonelada para quilo, o tornamos acessível para a pessoa física, que pode realizar a neutralização da sua pegada diária, semanal, mensal ou anual. E a tokenização, via blockchain, também traz segurança, porque cria-se uma rastreabilidade. Utilizamos toda a tecnologia não só para popularizar o crédito, mas também para trazer a segurança para os adquirentes de que o crédito é certificado e depois aposentado.

É mais interessante pra Ambipar vender dessa maneira do que no mercado mais tradicional, B2B?

Temos o B2B também. Não vamos deixar essa estratégia. Só acrescentamos o pioneirismo de trazer acesso à pessoa física.

Como anda o processo para listagem da Response em Nova York?

Estamos no famoso entre o sign e o close. Estamos trabalhando nos processos documentais para a Bolsa americana. A expectativa é que, em meados de outubro, possamos ter o closing de fato.

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