Por Equipe de Redação
Publicado em 4 de outubro de 2023
Projetos envolvendo sustentabilidade e criptoativos têm crescido nos últimos anos (Jarno Verdonk / Mark Fox / Getty Images)
Em entrevista exclusiva à EXAME, diretor de ativos digitais da empresa destacou avanços no projeto Ambify, lançado em 2021.
A união entre o mundo dos criptoativos e o tema da sustentabilidade ganhou força nos últimos anos, com novas iniciativas que buscam aproveitar os potenciais da tecnologia blockchain para impulsionar projetos de preservação ambiental e combate às mudanças climáticas. O Brasil, até pela relevância nesse tema, já possui algumas iniciativas consolidadas nessa área, incluindo a Ambify.
O projeto foi lançado pela Ambipar, uma empresa especializada no gerenciamento de crises envolvendo poluentes, em 2021. Em entrevista exclusiva à EXAME, João Valente, diretor de ativos digitais da Ambipar, destacou que a avaliação da empresa é que a iniciativa gerou “pouquíssimos desagrados. O projeto vai evoluindo conforme o tempo, mas nos surpreendeu a quantidade de engajamento das pessoas”.
Uma vantagem da iniciativa, ressalta, é o uso da tecnologia blockchain para disseminar informações e acesso a outro tema emergente: os créditos de carbono. Criados como uma forma de recompensar empresas que adotam medidas sustentáveis e servir como alternativa de compensação para empresas com dificuldade em adotá-las, esse mercado ainda é restrito devido ao alto valor. Mas o Ambify busca mudar isso.
Valente explica que o Ambify é um token que pode ser adquirido em corretoras brasileiras e que, na prática, é a representação digital de um crédito de carbono ainda não realizado. Ou seja, o detentor do token pode solicitar, junto à plataforma da Ambipar, a efetivação do crédito, na prática compensando uma determinada pegada ambiental gerada pelas suas atividades no cotidiano.
Uma das principais vantagens da tokenização, destaca o executivo, é a possibilidade de fracionamento de um crédito de carbono, permitindo que essas partes sejam usadas na compensação de atividades menores, de pessoas, e não necessariamente de empresas. “Você pode comprar ou para investir ou para fazer a compensação, agora ou não futuro. Você vê o que emite, com os hábitos, no dia a dia, e compensa”, explica.
“Pela rastreabilidade do blockchain, você consegue fracionar o crédito que é negociado tradicionalmente por tonelada. No token, você fraciona por quilo, permitindo popularizar e compensar coisas como um café, um almoço. Isso dá mais poder e conhecimento para as pessoas e empresas menores, com a ideia de que todos fazemos parte de uma grande missão”, afirma.
O executivo ressalta ainda que “sem conhecimento e sem a propriedade de falar disso, não consegue chegar nesse propósito”, o que dá um caráter educativo para os tokens. “O propósito é reduzir as emissões. Como nós estamos falando de um criptoativo listado em algumas corretoras, por ser open-source, um blockchain distribuído, não tem controle dos proprietários ou da distribuição da corretora”.
“O crédito é uma forma de contribuir com a mitigação dos riscos das mudanças climáticas. O crédito existe por conta das emissões, então você compensa as suas emissões porque quer contribuir com esse propósito maior. Você compra quando acredita naquilo, vê potencial no ativo”, lembra Valente.
Com a tecnologia blockchain, ele acredita que os créditos de carbono também ganham mais transparência, evitando erros como compensações duplas ou a perda de informações sobre esse crédito. Depois que a compensação é realizada pela Ambipar, o token é “queimado”, ou seja, deixa de existir.
Valente acredita que projetos como o Ambify mostram que “as pessoas quererem saber, conhecer o mercado de crédito e o mundo cripto. É uma linha de negócios, uma cadeia nova, que começou a surpreender também. O que precisamos agora é disseminar essa cadeia”.
“ESG e crédito de carbono já fazem parte do mundo da Ambipar há muitos anos. A ideia de tokenizar o crédito de carbono foi mais uma consequência, uma forma de popularizar e distribuir esse crédito de carbono quando antes só alguns segmentos usavam ou sabiam como usar o crédito de carbono, com foco em democratizar, popularizar e distribuir o crédito como forma de aumentar o conhecimento sobre o tema e dar mais distribuição para esse bem”.
A preocupação com a sustentabilidade se refletiu, inclusive, na escolha do blockchain que hospeda esses tokens. Valente explica que o objetivo era encontrar “uma rede leve com menor impacto de consumo, maior eficiência energética”. Por esse critério, a empresa acabou optando pela BNB Chain, que possui uma pegada ambiental baixa.
Ao mesmo tempo, o executivo da Ambipar pontua que o projeto ainda possui seus desafios, em especial pela dificuldade de saber “para onde o mercado cripto vai”. “A gente achava que NFT seria a última coisa a ser criada e desde então teve muita novidade. Então estamos pensando em adaptações para ReFi [Finanças Regenerativas], NFTs, pesquisas sobre metaverso, pelo potencial que isso tem”.
Outro foco agora é em trabalhar na disseminação dos tokens Ambify: “É um mercado muito novo, tanto de crédito de carbono quanto de utility token. A compreensão e transição no mercado ainda estão acontecendo. Temos muito para explorar. Mas, para quem faz tudo certinho, tudo é uma grande evolução. Para que o caminho seja trilhado de forma correta, a regulamentação é uma grande oportunidade, tanto em cripto quanto em crédito de carbono”.
“A regulamentação de crédito vai abrir várias outras portas para nós, de participar do mercado regulado, mostrar para o mundo o potencial do Brasil e o quanto o grupo Ambipar pode contribuir. No mercado cripto, vai criar normas de compliance. Dificilmente algum projeto, companhia, que tem encrustado um propósito positivo vai ser prejudicado”, opina.
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