Com baixo custo operacional e elevada capacidade de carga, novo monoturbina multimissão Leonardo AW09 aterrissa no Brasil com forte apelo de mercado. Foto: Leonardo.
O helicóptero monoturbina AW09 da Leonardo fez em 2023 o seu primeiro tour pelo Brasil. Esteve no Catarina Airshow, na cidade de São Roque, onde o fabricante italiano anunciou a Aero Service Representação (Gualter Helicópteros) como distribuidora exclusiva do novo modelo no país, teve um lançamento oficial no centro de manutenção e hangaragem Helipark, na Grande São Paulo, fez sua estreia na Labace e em dezembro a Amaro Aviation se tornou o cliente de lançamento do AW09 no Brasil ao formalizar um contrato de compra com a Gualter Helicópteros.
Protótipos da aeronave vêm sendo submetidos a testes de certificação na Suíça, seu país de origem – o helicóptero foi projetado pela Marenco Swiss Helicopter (SKYe), que passou a se chamar Kopter Group (SH09) em 2017 antes de ser incorporada pela Leonardo em 2020. A expectativa é que o AW09 receba sua licença de aeronavegabilidade da agência europeia de aviação (EASA, na sigla em inglês) no segundo semestre de 2024.
Há muita expectativa em torno do novo helicóptero single-pilot multimissão, que tem como principal atrativo a elevada capacidade de carga associada a um baixo custo operacional e a grande espaço interno, podendo realizar transporte de passageiros (panorâmico, corporativo e táxi-aéreo), serviço aeromédico (ambulância aérea, translado de enfermos, evacuação médica, busca e salvamento e transporte de órgãos), força policial (observação, patrulha, monitoramento e transmissão) e utilitário (carga externa, combate a incêndio, pulverização agrícola, inspeção de linha de transmissão, cobertura jornalística e treinamento).
Segundo o fabricante, já existem pedidos para 200 aeronaves no mundo todo, sendo vinte no Brasil e quinze em outros países da América Latina (a Synerjet Latina distribui o helicóptero na Colômbia, no Peru e no Chile). Na prática, os distribuidores compraram as aeronaves e estão vendendo posições.
Com previsão de receber a aeronave em 2025, o Brasil terá dois operadores iniciais, a Amaro Aviation no mercado de fretamento e a Ambipar Response Flyone do Brasil, que realiza operações de combate a incêndio florestal, operações aeromédicas e transporte aéreo no Brasil.
O preço básico (antes da importação, ou FOB) do AW09 é 3,75 milhões de euros em sua versão padrão.
“Nessa versão standard, o helicóptero virá com para-brisa anti-impacto, painel Garmin G3000H, sistema de controle elétrico e hidráulico duplo, duas portas do tipo concha deslizantes nas laterais, esqui alto, piso plano da cabine, teto alto e seis assentos individuais anticrash (cinco para passageiros e um para o piloto, com duplo comando aplicável)”, elenca Gualter Pizzi, sócio-diretor da Gualter Helicópteros.
O modelo executivo oferece ainda opção de ar-condicionado, piloto automático de quatro eixo com possibilidade de homologar o helicóptero para voos por instrumentos (IFR) e interior VIP.
“O projeto da aeronave AW09 é um projeto bastante inovador. É um helicóptero monomotor com bastante potência, mas, ao mesmo tempo, é um produto que vai revolucionar o mercado, por conter a tecnologia de piloto automático nos quatro eixos, capacidade para até oito passageiros, um bagageiro bastante espaçoso. Além disso, é um helicóptero com custo operacional bastante razoável”, disse Marcos Amaro, CEO da Amaro Aviation.
A Leonardo promoveu mudanças no projeto original suíço. A principal delas foi a troca do motor Honeywell HTS-900 pelo Safran Arriel 2K dual Fadec (sistema de controle eletrônico de motor de duplo canal com sistema de controle auxiliar como backup), de 1.006 cavalos de potência de eixo (shp).
É uma versão com alta semelhança com o motor Arriel 2D. “Será uma aeronave com primeira parada para manutenção somente após 300 horas de voo (sem inspeções de 15 horas por sete dias e de 25 horas). Depois, as inspeções serão de 600 e 900 horas de voo”, revela Pizzi. “Houve também modificações na caixa de transmissão e alterações nas pás do helicóptero. Importante ressaltar que o Garmin do AW09 é o mesmo do Phenom 300. Para o piloto, isso significa controle com toques na tela e menos carga de trabalho. Ele faz o plano de voo, conta com indicação de terreno, alerta de aproximação (TCAS) e o piloto automático de quatro eixos, que nenhum modelo da categoria oferece”.
Entre as inovações do AW09 ainda estão a construção em kevlar e fibra de carbono da fuselagem, o que ameniza problemas de corrosão, principalmente em um país tropical como o Brasil, e o rotor de cauda carenado.
“A resistência do material à umidade significa menos custo de manutenção com maior durabilidade e essa carenagem traseira representa mais segurança para o embarque e desembarque tanto de passageiros comuns como pacientes em macas, além da redução de ruído com 10 pás espaçadas desigualmente”, explica Pizzi.
As grandes dimensões das duas portas traseiras de acesso ao bagageiro, assim como a elevação do cone de cauda e do escapamento da turbina, representam mais conforto na operação do AW09, sobretudo em missões aeromédicas, acredita o representante brasileiro.
O Leonardo AW09 tem entre seus principais concorrentes os modelos Airbus Esquilo B3 H125 e B4 H130, o Bell 407 e o AW119 Koala. Com peso máximo de decolagem de 2.850 quilos na cabine (mais de 3.000 quilos com carga externa) e potência de 750 quilowatts (1.006 shp), a relação peso-potência do novo modelo da Leonardo é maior do que a dos demais.
Ainda assim, o AW09 poderá carregar mais peso do que os demais. “A carga útil para oito passageiros e combustível chega a 1.300 quilos”, diz Gualter Pizzi. No gancho, o monoturbina poderá içar 1.500 quilos (3.300 libras), de acordo com o fabricante.
“Nos demais itens, o AW09 também é superior. Isso vale para volume de cabine, material de construção, potência do motor, equipamento embarcado, piloto automático de quatro eixos, que ninguém tem, e para-brisa anti-impacto. Além disso, é preciso considerar que as atuais exigências de certificação são mais rigorosas do que as do passado, quando os concorrentes entraram no mercado”.
Para Gualter Pizzi, o AW09 será uma aeronave muito eficiente para voos entre São Paulo e Rio, por exemplo, incluindo deslocamentos para Angra dos Reis e Ilha Bela, no litoral. Com velocidade de cruzeiro de 260 quilômetros por hora (140 nós) e alcance de 800 quilômetros (430 milhas náuticas), o novo helicóptero terá autonomia máxima de cinco horas. “Mas, no dia a dia, o voo de helicóptero, depois de duas horas, começa a desgastar os passageiros. Em geral, as pessoas não fazem voos acima de três horas”, diz Gualter.
A fabricação do AW09 acontecerá na sede da Leonardo, em Cascina Costa di Samarate (VA), na Itália. Há rumores, porém, de que o conglomerado pode construir uma linha de montagem no Brasil.
A inauguração do Centro de Apoio a Helicópteros da Leonardo do Brasil, em Itapevi, na Grande São Paulo, corrobora essa tese, mas não há nada oficial. A expectativa é que o fabricante entregue 10 a 12 máquinas em 2025, triplique esse número em 2026 e, com o tempo, estabilize em uma média de produção de 100 helicópteros por ano, acredita Gualter Pizzi.
Para o atendimento pós-venda, a Gualter Helicópteros está conversando com futuros proprietários para certificar as oficinas mais convenientes, além de investir em estoque de peças. “Pretendemos fazer a revisão geral de componentes aqui, tanto na Leonardo como em outros centros”, diz o representante.
O AW09 é single-pilot, mas pode ter o duplo comando aplicável. As configurações de assentos preveem seis configurações: cinco assentos e um piloto com opção de duplo comando, seis assentos e um piloto, seis assentos e um piloto com opção de duplo comando, oito assentos e um piloto e oito assentos e um piloto com opção de duplo comando. O volume de cabine chega a seis metros cúbicos e meio, com um teto bastante alto para a categoria. Outro destaque da cabine é a ampla visão externa do interior do helicóptero por pilotos e passageiros.
A Leonardo vai oferecer cursos para pilotos e mecânicos na Itália e no Brasil. A ideia é trazer também um simulador de voo com óculos de realidade virtual. “Vai atender a toda a gama de aeronaves Leonardo, o que significa barateamento do custo”, acredita Gualter. “Como se trata de um helicóptero ‘classe’, pilotos de outros modelos vão precisar apenas de uma adaptação”.
A Leonardo tem em operação no mundo cerca de 4.500 helicópteros com pelo menos 900 destes dedicados ao transporte de passageiros, incluindo voos privativos e corporativos, assim como fretamento de táxi-aéreo e voos governamentais, atendendo autoridades. Na última década, o conglomerado italiano alcançou uma participação de 45% no mercado global de helicópteros VIP multimotor.
Recentemente, relançou a marca Agusta, com foco no mercado de alto luxo, oferecendo uma série de serviços premium. Divulgado na Labace, o programa Agusta for you apresenta uma série de soluções prontas de cobertura completa, atendendo às necessidades dos operadores corporativos de helicópteros, aumentando a disponibilidade de aeronaves e reduzindo os custos de estoque, além de otimizar despesas, cobrindo manutenções programadas e não programadas de fuselagem, componentes aviônicos e outros itens.
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