Por Equipe de Redação
Publicado em 9 de agosto de 2021
Com bilhões de dólares sob gestão e presença em 17 países, o fundo de investimentos americano L Catterton não demorou a incentivar a brasileira Espaçolaser a olhar para o exterior.
A sugestão para o voo internacional foi levada ao Conselho de Administração por um representante que passou a integrar o colegiado depois do aporte feito na empresa, em 2016. A semente rendeu frutos. Neste ano, a companhia abriu seu terceiro mercado fora do Brasil, com a compra de uma concorrente no Chile, três meses após a estreia da rede na B3, em que levantou R$ 2,64 bilhões.
O exemplo não é visto como um caso isolado. Fundos internacionais que pousam sobre ativos brasileiros trazem a experiência de fora e buscam criar valor para suas investidas aos olhos do mundo. Mais do que o incentivo, o parceiro estrangeiro também pode servir de ponte para potenciais compras no exterior a partir de sua rede global.
“O processo de internacionalização pode começar com a captação de recursos, o estrangeiro chega querendo colocar dinheiro, mas é importante que busque uma plataforma internacional, porque ter uma empresa só no Brasil não é interessante”, afirma Carlos Lobo, sócio do Hughes Hubbard & Reed LLP.
Após receber um aporte de US$ 400 milhões (cerca de R$ 2 bilhões) do fundo Advent, em junho, a curitibana Ebanx, por exemplo, afirmou que os recursos ajudarão a companhia em sua expansão pela América Latina, por meio de aquisições.
A Vtex, de serviços para e-commerce, já vinha trilhando o mesmo caminho. Desde 2019, quando recebeu uma rodada de investimentos liderada pelo Softbank, adquiriu uma empresa no México e uma nos EUA, além de quatro no Brasil. A exposição internacional, incrementada com as compras, foi recompensada pelos investidores na abertura de capital nos EUA. A empresa precificou sua ação acima do teto na oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), levantou cerca de US$ 360 milhões e viu a cotação subir 17% na estreia.
Astha Malik, diretora de operações da Vtex, diz que a abertura de capital era um passo natural para uma empresa de tecnologia madura e global como a Vtex. Segundo ela, aquisições como a da Workarea, feita nos EUA neste ano, representaram um fator extra de valor para os investidores. A transação adicionou US$ 1 bilhão à base de clientes nos EUA e Canadá, além de 100 novos talentos.
O IPO dará ainda mais respaldo para a empresa olhar mais mercados. “Somos uma companhia global, presente em 32 países. Isso nos ajuda a avaliar oportunidades de fusões e aquisições com alvos potenciais em todo mundo”, afirma Malik.
A executiva diz que os critérios para decidir as compras independem da presença dos fundos estrangeiros, mas destaca como positivo o fato de ter representantes no Conselho de Administração com experiências em fusões e aquisições, para ajudar a garantir transações atrativas. O colegiado conta hoje com nomes ligados ao Softbank e ao Riverwood Capital.
O IPO acaba sendo um marco de dois momentos no sentido da internacionalização. De um lado, empresas de olho na abertura de capital se mobilizam para ter uma presença geográfica mais ampla, para serem recompensadas na hora de lançar ações. Do outro, após a oferta, quando os recursos levantados são usados para acelerar esse processo.
“Ter presença em outros países dá visibilidade e exposição em moeda forte”, afirma Thiago Costa, CFO da Ambipar. “Trilhamos uma história de expansão internacional e com certeza isso trouxe atratividade ao papel.”
Na avaliação de Paulo Morais, CEO e fundador da Espaçolaser, para que o esforço seja levado em conta na hora do IPO é preciso demonstrar capacidade de conduzir uma estratégia internacional. Não basta apenas sinalizar a intenção.
Ao atentar para esse ponto em outras ofertas, a brasileira Nuvini, holding de softwares, decidiu ir mais devagar nos planos de abertura de capital, para, antes, poder avançar mais no exterior. A ideia ainda é a de abrir capital no ano que vem, mas a empresa está priorizando, no momento, captações privadas de recursos.
A rede de academias SmartFit, que já tinha presença em 13 países, aproveitou o impacto da pandemia no setor e reforçou o recado da sua veia internacional com uma nova transação quatro meses antes do seu IPO, num acordo com a mexicana Sports World. Apesar de também ter sido afetada pela crise, a companhia conseguiu levantar R$ 2,6 bilhões, e o tema da exposição global foi um dos destaques da oferta.(de O Estado de S. Paulo)
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