Co-fundador e CEO da Biofílica Ambipar, Plínio Ribeiro, abordou o papel do mercado voluntário de carbono. Fernanda Polo / Agencia RBS.
Evento também abordou temas como possibilidades de mitigação e o desenvolvimento do mercado de carbono.
Ambientalistas, profissionais do Direito, professores universitários, empresários, gestores públicos, institutos de governança sustentável e demais especialistas na área se reuniram nesta quarta-feira (8) para o 4º Fórum Internacional de Mudanças Climáticas da Economia de Baixo Carbono. O evento ocorreu no Ministério Público do RS.
O evento teve como objetivo discutir as mudanças climáticas, possibilidades de mitigação, o desenvolvimento do mercado de carbono e como se preparar para o iminente futuro, além de disseminar informação qualificada e científica e a cultura da sustentabilidade. O papel das cidades para uma agenda de baixo carbono e a adaptação que isso exigirá também esteve em pauta, assim como o impacto que as mudanças climáticas já tem gerado.
— Não vamos acompanhar o dinossauro, essa é a grande mensagem. Não queremos a extinção — afirmou o advogado Marcino Fernandes Rodrigues Junior, presidente do evento e do Instituto Latino-Americano de Desenvolvimento Econômico Sustentável (Ilades) na abertura do evento.
Rodrigues apontou o atual momento de “desgovernança sustentável” em função dos acontecimentos recentes no Brasil – com destaque para a enchente no Vale do Taquari – e no mundo, com a ação das mudanças climáticas. O advogado aproveitou a ocasião para anunciar que será realizado um inventário de carbono da sede do Ministério Público do RS.
Em seguida, o co-fundador e CEO da Biofílica Ambipar, Plínio Ribeiro, abordou, em um painel, o papel do mercado voluntário de carbono. A empresa oferece serviços ambientais, promove a economia circular e é especializada na produção de crédito de carbono. Isso ocorre a partir de projetos de conservação e de restauração florestal – as chamadas soluções baseadas em natureza.
Existe hoje uma grande pressão não só dos reguladores, mas dos consumidores e acionistas, exigindo que essas companhias se descarbonizem, conforme Ribeiro. No entanto, nem toda empresa está dentro de um mercado regulado, como no caso de serviços. A alternativa, então, é o mercado voluntário. A empresa faz o inventário, tem um plano de redução de emissões e, quando não consegue reduzir, compra uma compensação de outra empresa, como no caso das soluções baseadas em natureza. Entenda como funciona o mercado de créditos de carbono.
— É um mercado novo, assim como todas essas soluções de descarbonização. A gente está discutindo isso há muito tempo, mas, do ponto de vista de solução, nós estamos há uma década realmente implantando — destacou.
Para Ribeiro, o Brasil é o grande fornecedor dessas soluções, por sua natureza ecológica. Entretanto, a demanda para esse mercado está fora do país.
— O mercado voluntário é mais um dos instrumentos financeiros disponíveis para o nosso país, para a gente endereçar essa agenda de mitigação e de adaptação climática. Porque a floresta, além de mitigar, sequestrando o carbono, melhora a nossa adaptação, às enchentes e secas, a qualidade de recurso hídrico… tudo isso é um serviço ecossistêmico que as nossas florestas prestam — pontuou.
Secretária Nacional de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente, a economista Ana Toni gravou um depoimento para o evento, destacando que a preocupação com a mudança do clima é um dos grandes pilares do governo federal. Ela citou iniciativas voltadas a essa área, como a retomada da pasta e a criação da Secretaria de Bioeconomia, além da ampliação de fundos monetários para o meio ambiente e de planos de descarbonização. Ana frisou que é de interesse do governo federal que o mercado de carbono, que está em trâmite no Congresso Nacional, seja aprovado o mais rápido possível.
— Sabemos que só vamos conseguir combater as mudanças do clima e o desmatamento se dermos oportunidades econômicas e sociais para a população que vem necessitando de emprego. Então, o desmatamento tem de ser fruto não só de ações de comando e controle, mas também ações de estímulo à bioeconomia. — declarou.
Em entrevista a GZH, a bióloga e jornalista Jaqueline Sordi, uma das palestrantes do evento, lembrou que a humanidade sabe onde está, mas há muita incerteza sobre para onde vai. A ciência já mostra o quanto o planeta aqueceu desde a era pré-industrial (+1,3ºC acima da média) e que é inequívoca a influência do homem nessa mudança, frisou a bióloga.
Jaqueline citou o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, que mostrou cinco previsões de futuro: em duas delas, ainda é possível manter um aquecimento abaixo de 2ºC, o limite estabelecido para evitar consequências mais catastróficas; contudo, três cenários apontam para um aumento de até 5ºC.
— Então essa é a principal incógnita. Como a Terra vai reagir, se já está reagindo assim agora, com cada 0,1ºC que aquece mais? E como o homem vai se portar em relação a isso, se vai tomar atitudes, não ficar só no discurso — alertou.
O futuro depende de uma mudança de consciência ampla, e esse é o grande desafio, conforme Jaqueline. Ela avalia que o Rio Grande do Sul ainda tem muito a melhorar em relação a essa questão, que parte principalmente da educação básica. A jornalista prefere acreditar que ainda é possível contornar o cenário, para não desistir.
O secretário executivo adjunto do ICLEI – Governos Locais para a Sustentabilidade, Rodrigo Corradi, também palestrou no evento, abordando a dinâmica de pensar cidades com a premissa de serem de baixo carbono. Em conversa com GZH, ele reforçou a necessidade dessa agenda não ficar apenas dentro das estruturas de meio ambiente, mas se integrar às estruturas produtivas, de planejamento e de infraestrutura.
— A gente não pode pensar em uma agenda de sustentabilidade que seja sistêmica, profunda e estratégica que não seja centrada nas cidades — reiterou.
Ainda que o Brasil seja um ponto fora da curva, principalmente entre as economias do G20 – já que as cidades não são os maiores emissores, e sim a agricultura, as queimadas e a destruição de florestas –, também é preciso trabalhar com a baixa emissão nas cidades.
Conforme Corradi, Porto Alegre tem características de emissões correspondentes às das cidades latino-americanas: 67% são oriundas do transporte. Para o secretário, é possível fazer qualificações, como no transporte coletivo, que representa 14%. Porém, é preciso descobrir como realizar o debate sobre a modificação das emissões de transporte coletivo fazendo com que as pessoas o utilizem – a realidade está longe de todos terem um carro elétrico, lembrou. Por outro lado, a Capital já tem realizado inventários de gases de efeito estufa e está trabalhando em um plano de ação climática conectado com a revisão do plano diretor.
Além disso, a agenda de baixo carbono nas cidades não pode focar apenas na mitigação e deixar a adaptação de lado, salienta Corradi. Do mesmo modo, não adianta pensar que, somente solucionando o problema brasileiro na Amazônia, a agenda climática estará solucionada.
Em relação às pequenas e médias cidades, a situação tem elementos muito distantes das atividades voltadas ao baixo carbono em grandes cidades. O secretário lembra que, nesses espaços, sobretudo, o processo eleitoral tem uma importância fundamental na tomada de decisão pública. E, em todos os arranjos regionais, será cada vez mais primordial compreender que esse cenário não pode mais ser ignorado.
— Não vejo como uma campanha municipal vai acontecer no Estado do Rio Grande do Sul, por exemplo, sem a gente falar sobre riscos e desastres e a necessidade de uma agenda de adaptação. Apesar do quão triste e do quão impactante isso é para o Estado, tudo que aconteceu é importante. Se a gente não fala, não trabalha esse tema, não prioriza essas ações, o grande problema é o que vai acontecer depois — alertou.
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