Por Equipe de Redação
Publicado em 3 de outubro de 2021
Produto foi desenvolvido a partir de rejeitos de açúcar, soja, milho, trigo e arroz. Ele traz benefícios às empresas nos aspectos ambiental e econômico.
Uma empresa da área de gestão ambiental encontrou um caminho diferente para reaproveitar os resíduos provenientes de grãos, que oferecem riscos de contaminação no Porto de Santos, no litoral paulista, o maior complexo portuário do Brasil. Rejeitos de açúcar, soja, milho, trigo e arroz, agora, dão origem ao ecoálcool. O produto atende à alta demanda durante a pandemia do coronavírus e, além disso, traz benefícios às empresas nos aspectos ambiental e econômico.
O cais santista é o principal porto brasileiro em valores de cargas movimentadas. Em 2020, foi responsável por operar 146,6 milhões de toneladas de diversos tipos de mercadorias, principalmente grãos e itens a granel. O Porto de Santos é o principal exportador de açúcar, soja e milho do país, e o segundo maior porto importador de trigo no Brasil.
Com tamanha movimentação, toneladas de resíduos caem nos locais de transporte e armazenamento. As sobras dos grãos podem levar sujeira para a área urbana, mau cheiro, e atraem insetos causadores de doenças, entre outros problemas. Por isso, empresas são contratadas pelos terminais para a limpeza destes locais. Os resíduos, geralmente, são destinados a um aterro sanitário.
Porém, a Ambipar, que realiza a limpeza e a manutenção de armazéns da Copersucar no Porto de Santos, encontrou uma solução inovadora para esses resíduos. Após um ano de pesquisas, cientistas e técnicos do Departamento de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) desenvolveram o ecoálcool, a partir de rejeitos de açúcar, soja, milho, trigo e arroz.
“Fazemos a varrição desses resíduos com equipamentos de sucção e pessoas. Despejamos em caçambas que, posteriormente, são levadas semanalmente para uma usina no interior de São Paulo, que faz uma fermentação com esses resíduos”, explica Gabriel Estevam Domingos, diretor de PD&I da Ambipar.
Segundo ele, o processo é baseado na degradação de moléculas de açúcar (glicose ou frutose), no interior das células de microrganismos (leveduras ou bactérias), até a formação de etanol, por meio do controle de tempo de fermentação, temperatura, pH, odor, agitação e umidade.
Após esse processo, é obtido o álcool 46% ou 70%. Ele é envasado para a comercialização, seguindo diretrizes do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O produto também está sendo apresentado e distribuído para as empresas parceiras utilizarem nos processos de limpeza e higiene. Com cerca de 1 tonelada de varrição, é possível produzir cerca de 300 litros de álcool 46%.
“Ele faz tudo que o álcool convencional faz. Possuímos todos os laudos e licenças que os órgãos de controle e fiscalização exigem. Envasamos com a nossa marca. A embalagem também é ecológica [plástico reciclado]. Nossa produção hoje, com base nessa demanda, é de cerca de 60 mil litros [mensais], que pode ser aumentada”, explica Gabriel Domingos.
Roberto dos Anjos, analista de Gestão e Meio Ambiente da Copersucar, explica que os resíduos de varrição, anteriormente, eram encaminhados para a compostagem. A quantidade varia conforme o volume de perdas no descarregamento do produto dentro do terminal, mas gira em torno 30 toneladas por mês.
Mesmo com o método de descarte correto, a empresa buscou melhorias que agregassem benefícios aos processos, à segurança e ao meio ambiente. “Essa oportunidade de inovação com a Ambipar, além de promover um ganho ambiental maior na destinação dada a esses resíduos, ainda permite transformar o material em novos produtos, e reduzir custos da operação em até um terço”.
A princípio, o ecoálcool surgiu para resolver a questão dos resíduos de grãos na região portuária santista, mas o projeto já está se expandindo para as indústrias de alimentos e bebidas.
Hoje, a empresa também trabalha com o processamento de sobras de sucos naturais de uma das maiores indústrias do segmento, e sobras de balas de fábricas de alimentos. O processo é o mesmo: o resíduo rico em açúcar, que não pode ser reprocessado para produção de alimentos, sofre uma fermentação e, assim, se obtém o ecoálcool.
A tecnologia para se obter o produto é considerada simples. Os resíduos que eram descartados, agora, são reintroduzidos no mercado, promovendo a sustentabilidade e fazendo a economia circular, fomentando o desenvolvimento do pequeno e médio produtor rural.
Além disso, o ecoálcool diminui a necessidade de matérias primas virgens, como a cana de açúcar, para a produção do produto por parte da indústria. “O resíduo que antes tinha elevados custos de destinação com transporte e processos de tratamento, agora, pode se transformar em receita, colocando o conceito de economia circular em prática”, diz Gabriel Domingos.
Em tempos de pandemia, em que as pessoas intensificaram a utilização do produto no dia a dia, a demanda é alta. Assim, consumidor, empresário e o meio ambiente agradecem ao novo conceito de se produzir álcool. “O resíduo possui um destino muito mais nobre e inovador”, conclui Domingos.
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