Por Equipe de Redação
Publicado em 25 de janeiro de 2024
Em entrevista à EXAME, executivo da Ambipar destaca necessidade de criptoativos se “transformarem” pensando em exigências do mercado. Sustentabilidade entrou na agenda de projetos de criptoativos.
A intensificação das mudanças climáticas nos últimos anos reforçou as discussões e ações em torno da expansão da sustentabilidade em diversos setores da economia. É o caso, também, do mundo das criptomoedas. Cada vez mais, projetos buscam mostrar a preocupação com o tema e as ações tomadas para tornar tokens, NFTs e moedas digitais mais “verdes”.
O cenário reflete um desafio desse setor de “olhar a sua necessidade de se transformar” para essa nova realidade. É o que avalia João Valente, head de ativos digitais da Ambipar, em entrevista exclusiva para a EXAME. O executivo ressalta que o mercado e investidores têm exigido cada vez mais essa preocupação, sendo um elemento importante para a atração de capital.
Como resultado, ele cita iniciativas de redução de impacto ambiental dos criptoativos. A Ethereum – um dos maiores blockchains do mercado – mudou em 2022 o seu mecanismo de consenso para uma alternativa mais sustentável, que reduziu sua pegada ambiental em 99%. Outros projetos, como a Polygon, surgiram apoiados exatamente na promessa de terem um impacto ambiental menor que seus concorrentes.
Para Valente, o cenário atual é de “um movimento mais robusto nos pilares ESG. Estamos parando de falar em salvar o planeta e já estamos falando de regenerar o planeta, ir além. Esse desafio vale pra todos os segmentos, incluindo no setor financeiro. Então você começa a enxergar uma necessidade de procurar soluções sustentáveis, para não apenas preservar o que temos de recursos mas também começar a olhar na regeneração”.
A preocupação com esse tema estava no radar da própria Ambipar quando ela criou seu token, o Ambify. Na prática, a cripto representa um crédito de carbono não compensado, facilitando o acesso a esse tipo de investimento, que antes estava restrito a uma parcela pequena do mercado. Até pela temática ambiental, a sustentabilidade no projeto era importante.
Valente comenta que um dos aspectos mais importantes da sustentabilidade em cripto é ligar a questão com o propósito do ativo, como foi feito no caso do Ambify. Essa conexão envolve “escolha de rede, fonte de energia, muita mais do que sair compensando carbono [por emissões geradas pelo projeto]. Também há casos de uso de recursos de cripto para projetos sociais, uma forma de devolver para a sociedade”.
No caso do Ambify, o executivo diz que a Ambipar buscou “fechar lacunas” que existiam no tema de sustentabilidade, tanto dentro quanto fora do mercado cripto. Um dos elementos externos mais relevantes é o chamado greenwashing, em que empresas passam uma imagem de desenvolver ações sustentáveis sem realizá-las na prática.
“O desafio foi defender o propósito de redução [de emissões de carbono], e não compensação, de evidenciar o lastro, buscar uma rede blockchain confiável, escalável, que pode dar rastreabilidade e amparo ao ativo, dar transparência e conhecimento público do código. Precisamos procurar projetos idôneos, com certificação internacional e de terceira parte”, destacou.
Ao mesmo tempo, Valente acredita que um dos principais desafios do token, e de outras criptomoedas, é a comunicação com o público: “A falta de informação, ou receber a informação errada, é um grande problema. O desafio está mais ligado a participar de congressos de cripto, finanças, ESG, sustentabilidade, porque a gente transita em todos esses ambientes, assim a gente consegue mostrar qual informação é correta e quais as oportunidades e os desafios que têm”.
“Isso foi algo pensado desde o início, ter uma equipe multidisciplinar para pensar nisso, e percebe cada vez mais que vai pegando tração e mostrando que o assunto é sério, é importante e o propósito está acima de tudo”, comenta. O principal, acredita, é “mostrar como o token ajuda em um propósito. Dar a informação, mostrar qual é a informação correta e circular dentro desses meios onde ainda é desconhecido”.
Outro ponto que costuma ser um desafio para o setor é enfrentar críticas sobre a sua própria existência. Para alguns, os criptoativos ainda seriam “inúteis”, e portanto mesmo reduções de impactos no meio ambiente ou ações de regeneração não seriam suficientes.
Valente pontua que o mercado de criptomoedas hoje possui uma capitalização de mais de US$ 2 trilhões. “Do ponto de vista das finanças, não é um mercado desprezível. Mesmo que um número menor de projetos tenha um propósito eficiente, um lastro ou uma referência de valor, não é um mercado desprezível, porque eles representam uma parcela grande dessa capitalização, mais de 90% em valor”.
Ao mesmo tempo, ele acredita ser essencial que os projetos consigam explicar sua importância e missão, o que ajudaria a reduzir essas críticas. “O token precisa ter um projeto por trás, não é uma questão de ser inútil ou não”, opina.
“O Ambify, por exemplo, facilita o acesso ao crédito de carbono, permite investir, uma possibilidade que antes não existia porque o mercado antes era nichado. O propósito tem que fazer sentido. A falta de conhecimento leva a essa ideia que é inútil, mas a tokenização abre portas e dá acesso, mesmo que ainda incipiente”, considera Valente.
Para o head de ativos digitais da Ambipar, há uma “necessidade de procurar alternativas para poder cumprir a sustentabilidade no ambiente macro. Não é só praticar ações mais simples, é ir além, encontrar caminhos para poder traduzir e transferir esse engajamento todo, é o que torna necessário ter esse olhar”.
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